Um dos principais eventos globais do setor de telecomunicações, o Mobile World Congress 2023 teve presença de uma robusta delegação brasileira composta por integrantes de órgãos governamentais e líderes de grandes empresas do setor.
Para falar mais sobre o que rolou no encontro da cidade espanhola, o Futurecom realizou nesta terça-feira, dia 4 de abril, o evento Pós-MWC Barcelona bu Futurecom, que teve mediação de Marcio Kanamaru, sócio líder TMT da KPMG, com os convidados:
- Abraão Balbino, superintendente executivo da Anatel;
- Jacqueline Lopes, diretora de Relações Institucionais Latam South da Ericsson;
- Hermano Pinto, diretor do Futurecom;
- Daniela Martins, diretora de Comunicações Institucionais da Conexis e Telebrasil; e
- Luiz Henrique Barbosa, presidente da TelComp.
Saiba mais dos principais pontos destacados pelos participantes abaixo!
O desafio da monetização nos novos negócios de telecomunicações
Abrindo o debate, Balbino observou que um dos principais desafios apresentados em Barcelona foi o da monetização e sustentabilidade dos negócios de telecomunicações. Ele explicou:
“Tivemos a oportunidade de ter um debate bastante rico junto com a delegação e com vários atores do setor público, e entendemos que isso permitiu com que conseguíssemos pegar um conjunto de questões conjunturais do que estamos passando e trazer para todos que estavam lá de maneira estruturada”.
Balbino comentou que é preciso mudar a visão dos agentes sobre a regulação, pois, segundo ele, existe uma simbiose no processo entre operadoras e órgãos buscando manter o nível de inovação no ecossistema digital de forma sustentável.
“O caso do Facebook, por exemplo, que saiu do modelo web para o mobile foi feito graças à inovação que permitiu que a banda móvel estivesse disponível, e isso foi significativo para a mudança de paradigma que essa empresa viveu”, refletiu.
Ainda segundo ele, um dos papéis da Anatel neste sentido é de permitir com que essas relações se deem de forma produtiva e comunicativa.
“A Anatel está olhando para isso, buscando trazer equilíbrio nas relações, ao mesmo tempo trazendo uma visão de sustentabilidade para todo o ecossistema sem nenhum tipo de viés”, ressaltou.
Sustentabilidade e crescimento industrial com as inovações da conectividade
Na sequência, Jacqueline Lopes falou sobre o 6G, analisando o que é necessário ser feito para chegarmos até lá enquanto ainda expandimos o recém-chegado 5G. Segundo ela, a tecnologia pode ajudar em outro tema vital hoje: a sustentabilidade.
“Nós sabemos por meio de um estudo da Ericsson que a tecnologia pode ajudar a reduzir em 15% das emissões. Os tráfegos de dados até 2030 aumentarão em quatro vezes, mas o consumo de energia se manterá estável”, pontuou ela.
Lopes prosseguiu: “Em um contexto global, com todos trabalhando em prol da sustentabilidade, com as empresas e países tendo metas como o ESG, por que não usar a tecnologia de forma inovadora e sustentável para que o 5G possa ser uma tecnologia habilitadora de todos os setores?”
Ela falou da questão da monetização do 5G, citando os desafios dos presentes, que ela divide em três pilares: FWA, Networking Slicing e redes privadas.
A representante da Ericsson também revelou que o estudo da empresa indicou que até 2030 o setor industrial terá um aumento de demanda entre 65 a 85%, trazendo mais de 380 bilhões de reais em transformação digital. Ela observou:
“É um esforço dos vários atores - sejam as empresas que atuam na transformação digital, as operadoras, nós na parte das ventures, colaborando com o governo pois a parte regulatória também é fundamental para trazer previsibilidade - desenhando os desafios para atuarmos de forma conjunta para que a inovação siga acontecendo.”
A formação de profissionais para o futuro do mercado tecnológico
Hermano Pinto começou sua participação apontando o fato de que o mercado é muito dinâmico, com várias novas empresas presentes no evento de Barcelona. Segundo ele, o ponto principal é a inovação e o que está sendo aplicado no mundo.
“Cada região tem seu desenvolvimento, então víamos os asiáticos trabalhando de uma forma, os europeus de outra, os americanos também com suas soluções, mas o importante é saber que agora estão todos trabalhando com os pés no chão”, disse.
Ele acrescentou: “A sustentabilidade permeou todas discussões, pois temos vários fatores, como a rede, mas também a questão de servidores, data centers, e em todas áreas percebemos a questão da energia.”
Outro ponto abordado pelo diretor da Futurecom foi o da formação das pessoas e profissionais que manterão essas tecnologias em crescimento. Ele comentou o exemplo do governo da Espanha atuando junto com a Telefônica para que jovens tenham como base de informação a linguagem de programação.
Particularidades do Brasil e a questão da Lei das Antenas
Em seguida, Daniela Martins falou do equilíbrio de players, aumento do uso das redes e particularidades do Brasil como aspectos que foram visualizados durante o MWC em Barcelona.
“O que já estamos projetando para o Brasil é realidade mundial, pois em 5G fechamos o ano com 6 milhões de acessos. Então, em termos de obrigações do edital, elas estão sendo cumpridas”, analisou ela.
Martins continuou: “Com esse tema, vemos aqui primeiro o desafio do Brasil, mostrar que temos o compromisso do edital, relacionado com o apetite de investimento, alimentando recursos que vão trazer maior volume de investimento para que essa velocidade de implementação seja mais rápida.”
Ainda na visão da painelista, a questão da Lei das Antenas é outro aspecto que demanda atenção para que o 5G siga avançando, preparando também o terreno para a iminente chegada do 6G nos anos vindouros.
“Somos um país continental, com mais de 5 mil municípios, e cada um deles com sua própria legislação de antenas. O segundo ponto que também precisamos trazer para um debate constante é a tributação”, disse ela.
Ela concluiu: “Também temos a discussão das normas sobre tecnologia e conectividade, e trazer de Barcelona essa provocação, que tenhamos regras e leis acessíveis e aderentes não só para a conectividade atual, mas para o que está vindo por aí.”
Agentes trabalhando unidos para o avanço da telecomunicação nacional
Luiz Henrique Barbosa foi o próximo a se pronunciar. Ele abordou o fato da Telcomp ser uma associação que engloba empresas de diferentes áreas do setor, relatando que a entidade tem buscado um novo posicionamento em sua atuação.
“Nessa visão de buscar ser um hub de negócios, e não só aquele comportamento histórico de falar de tributação, regulatório, infraestrutura, e como a gente inova? Com a cadeia de valor fixo, cadeia móvel, que é no que a gente quer se posicionar”, relatou ele.
Para Barbosa, a entidade que representa, assim como outras do segmento, podem seguir colaborando com esses diálogos entre os setores público e privado para que as telecomunicações continuem se desenvolvendo com agilidade no país.
“Nós nos colocamos como uma associação que ajuda a entender a tecnologia, mostrando que ela é algo transversal, facilitando o ambiente de negócios de telecom, e trazer as aplicações que vimos em Barcelona dentro de uma realidade mais factível”, complementou.
Daniela Martins também falou sobre a monetização do 5G em áreas como educação, saúde e demais segmentos industriais. Jacqueline Lopes, por sua vez, observou que a conectividade traz vantagens para o B2B, destacando que é preciso acelerar a preparação das empresas para isso, fomentando assim o ecossistema.
Segundo Barbosa, o 5G já está auxiliando a redefinir o ciclo das telecomunicações do Brasil. Ele afirmou, no entanto, que as mudanças não ocorrem do dia para a noite, como no exemplo dos smartphones, que precisaram de quase uma década desde sua criação para disporem dos aplicativos e funcionalidades que temos hoje.
Quer conferir tudo o que os painelistas compartilharam no Pós-MWC Barcelona By Futurecom? Assista ao debate na íntegra e confira outros pontos de grande importância sobre o avanço das telecomunicações no Brasil!