Dos primórdios da sociedade até a chegada do homem à lua, a exploração espacial sempre foi uma obsessão da humanidade. Mais recentemente, este objetivo tem ganhado novos capítulos com o investimento privado no setor, o que impacta diretamente nas telecomunicações e demais serviços tecnológicos via satélite.
Com mediação de Mauro Wajnberg, Presidente da Abrasat, o painel “LEO, MEO e o Space as a Service: uma nova era espacial a partir da sua ‘privatização’” foi um dos destaques do Future Congress no Futurecom 2022.
A conversa contou com as participações de Fabio Alencar, Vice-presidente de Desenvolvimento Corporativo Latam da SES; Erika Rossetto, Coordenadora da Embratel Star One; Rodrigo Leonardi, Coordenador de Satélites e Aplicações da Agência Espacial Brasileira; Oscar Delgado, Diretor de IoT Sales & Business Development do HEAD Aerospace Group; e Bruno Soares Henriques, Head de Business Development Latam do projeto Kuiper da Amazon.
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O impacto das constelações de satélites para o mercado de banda larga
Iniciando o debate, o mediador Wajnberg perguntou aos convidados sobre qual é o impacto das constelações de satélites para o mercado de banda larga.
Para Henriques, da Amazon, tais iniciativas devem trazer cada vez mais vantagens em termos de conectividade de alta velocidade. Ele destaca que a empresa já investiu mais de US$ 10 milhões em seu projeto que visa oferecer internet através de uma constelação de satélites em baixa órbita.
“Temos tido um foco muito grande na acessibilidade, e isso faz com que a gente tenha conseguido desenvolver por exemplo um terminal de baixo custo, e acreditamos que vamos poder contribuir com opções para o cliente final”, destacou.
Segundo Alencar, da SES, o impacto de tais iniciativas já está sendo sentido no mercado, e a visão de aumentar a cobertura deve ser um dos guias deste avanço.
“Acho que o setor de satélites nunca teve um momento de tanto investimento e volume como agora, e isso afeta e é positivo para a indústria como um todo. Nós precisamos ampliar a cobertura do acesso à internet, temos acompanhado o lançamento do 5G, mas eu digo que, mais do que latência, o diferencial que o 5G precisa trazer é a cobertura, pois sem ela não haverá novas aplicações”, observou.
Seguindo uma visão semelhante, Delgado, do HEAD Aerospace Group, crê que a cobertura deve seguir avançando, mas ele destacou que há também outras constelações tão importantes quanto às de conexão à internet.
“Menos de 10% da área da terra tem cobertura. Muitas vezes não percebemos pois todas as áreas urbanas são cobertas, mas outras tantas não. Porém precisamos lembrar que nem tudo é internet: existem constelações específicas para telemetria, para IoT, onde você não precisa estar necessariamente online”, disse ele.
As diferenças entre satélites LEO, MEO e GEO e a regulamentação do espaço
O painel também abordou as diferenças entre os diferentes tipos de arquitetura, que se dividem entre LEO (baixa órbita), MEO (média órbita), e GEO (alta órbita). Para Alencar, o futuro deverá abranger as três, sendo “multiórbita”.
“Acho que tem mercado para todo mundo, e cada sistema tem sua característica que é ótima. Por exemplo o GEO para uma área de cobertura grande, o LEO para baixa latência, e o MEO sendo um meio termo entre os dois, te ajudando a conseguir grandes capacidades por ponto”, explicou ele.
Na sequência da conversa, Erika Rossetto, da Embratel Star One, falou sobre a questão da regulamentação que tem permeado o debate sobre o uso do espaço com diferentes finalidades e por diferentes empresas e nações.
“Acho que primeiro precisamos focar em otimizar o que já sabemos fazer, que é monitorar o que está lá, tentar fazer um uso mais consciente, pois hoje temos muitas empresas lançando satélites, e ele ficará lá, porém sabemos que este espaço é limitado”, observou ela, alertando para a questão da poluição espacial.
Leonardi, da Agência Espacial Brasileira, concorda com a visão da colega, destacando que não existe uma solução em curto prazo, mas que é importante que tais questões sejam debatidas em esferas diplomáticas pelas nações envolvidas.
“Existem questões muito sensíveis relacionadas à defesa, e será muito difícil encontrar uma solução que atenda a todos se não houver negociação internacional. Além de todos os organismos que podem nos auxiliar no uso do espaço, é preciso também ter um diálogo dentro das Nações Unidas”, comentou.
De acordo com ele, há o risco de que a órbita fique saturada, e que isso fará com que os diferentes países se sentem à mesa para negociar.
Ele destacou que o Brasil ainda realiza uma ação modesta em termos de lançamentos de satélites, não estando entre os principais responsáveis pelo lixo espacial, mas destaca que o país faz uso dessa estrutura como consumidor.
Ainda segundo Leonardi, o papel conciliador do Brasil poderá servir como uma maneira de que o país aja como um negociador entre diferentes nações para um futuro próximo de discussões mais assertivas sobre a regulamentação do espaço.
Outros temas abordados no painel foram as principais aplicações de IoT que se relacionam com o avanço dos satélites LEO e MEO, assim como as relações entre os players privados e governos na relação de exploração espacial.
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