Para o nosso primeiro episódio da segunda temporada dos Minutos Corporativos Futurecom, o bate papo é sobre tecnologia e inovação no agronegócio com Juliana Chini, Gerente de Marketing Senior LATAM da Arable, líder de inteligência agrícola, que promove agricultura digital globalmente.
Conectividade, produtividade, diversidade e sustentabilidade são uns dos nossos temas debatidos durante a conversa. Confira!
Futurecom: Como a adoção da tecnologia e conectividade podem melhorar, impulsionar, alavancar a eficiência, produtividade e sustentabilidade no campo?
Juliana Chini: “O nosso agro já é muito tecnológico. Temos a Embrapa, que acabou de completar 50 anos, e conseguiu, através de pesquisa, ciência e tecnologia, que o produtor produzisse nos lugares mais remotos e mesmo no centro-oeste, onde a gente tinha um solo muito fraco.
Então, já é um setor que há muitos anos investe em tecnologia, mas é uma tecnologia muito focada no desenvolvimento de sementes, desenvolvimento de novas variedades.
E hoje, considerando todos os desafios que a gente tem pela frente, seja os desafios de alimentar uma população cada vez mais crescente - uma população mundial, pensando que o Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo; seja desafios de sustentabilidade, considerando que a gente precisa produzir cada vez mais com menos recursos; e também os grandes desafios que a gente tem quanto mudanças climáticas, considerando que o Brasil é um país tropical, e já é considerado um que nos países que vai ser mais impactado pelas pelas mudanças - e a gente já está sendo, sofremos 3 anos de La Niña, estamos terminando de colher a soja no sul, depois de um período de muito seca.
Então, todos esses desafios são cada vez maiores e estão acontecendo numa velocidade mais rápida, o que exige a necessidade da gente investir cada vez mais em tecnologia.
Então, a questão de um produtor adotar ou não tecnologia, não é mais algo optativo. É necessário para que ele consiga de fato aumentar a produtividade com sustentabilidade. Porém, claro, hoje um dos grandes desafios é a conectividade.
Pensando na questão da tecnologia, eu gosto sempre de fazer uma comparação com um aplicativo de mercado financeiro. Hoje você quer acompanhar seu patrimônio, você entra lá no aplicativo do banco, da fintech, ou do que seja, e você analisa como está o seu patrimônio, você consegue ver rentabilidade e você consegue traçar projeções.
Até hoje, no campo, quando você pensa nessa questão do patrimônio, ainda é muito escuro. Você não sabe exatamente o que está acontecendo ali, porque você não tem informação, você não tem dados, e tem aquela célebre frase da administração que fiz que aquilo que não pode ser medido não é gerenciável, você não consegue saber o que está acontecendo.
A agricultura digital vem de encontro para conseguir mostrar para o produtor, aonde quer que ele esteja, o que está acontecendo ali na lavoura ou com os animais, no caso de pecuária, ou mesmo com os maquinários.
Essa informação vai ser cada vez mais necessária para uma tomada de decisão assertiva frente a todos os desafios. E é a conectividade, de fato, é o grande desafio, porque ela é um insumo, ela é o novo fertilizante do campo, digamos assim.
Um estudo do ano passado apontou que 13 milhões de brasileiros não têm internet no campo ainda, 13 milhões é mais do que a cidade de São Paulo.
Então, é um insumo que é cada vez mais necessário para que de fato aconteça a adoção de tecnologia. O produtor está ávido, cada vez mais ávido para adotar, porém, a gente precisa dos insumos básicos para que ela aconteça.”
Futurecom: Como convencer o pequeno e médio produtor dos benefícios da conectividade e tecnologia no campo e em quanto tempo se paga esse tipo de investimento?
Juliana Chini: “Olha, é claro que depende de cada tecnologia, a gente tem algumas que tem um valor de investimento muito alto, o que dificulta para para adoção do pequeno e médio.
Mas em geral, quando a gente considera as Agtechs, a maioria oferece um tipo de serviço que o valor acaba não sendo tão absurdo, até porque as Agtechs têm que ser escaláveis, a gente tem que diluir ao máximo o custo por produtor.
A questão é não pensar em um custo, mas em investimento. O quanto o produtor acaba não perdendo se ele sabe que vai acontecer uma geada, quanto que um produtor acaba não perdendo se ele sabe que tem uma praga acontecendo em determinado ponto da lavoura dele, e que ele não saberia se não tivesse nenhuma tecnologia.
Muitos produtores, ainda mais pequenos e médios, fazem uma gestão pela famosa caderneta. Não tem nenhum Excel, não chegam nem num ponto de um Excel, de alguma ferramenta de gestão um pouquinho mais sofisticada. Perdeu a caderneta, perdeu tudo e isso é custo
Colocando no básico, ter uma tecnologia para gestão já é algo que faz com que ele tenha ali um mínimo de controle e monitoramento do que está acontecendo financeiramente na operação dele.
E indo para soluções um pouco mais avançadas, como a da Arable, hoje, a gente dá o momento certo para o produtor fazer uma aplicação de defensivo, considerando principalmente as questões climáticas.
O que acontece muito é do produtor fazer aplicação, choveu, perdeu tudo, e defensivo é custo. Então, a tecnologia precisa ser vista cada vez mais como um investimento e não como um custo que onere o produtor.
Esse é o grande desafio para nós que trabalhamos nesse setor, mostrar que aquilo não não vai ser algo oneroso, não vai ser mais uma coisa que ele está gastando, mas sim algo que ele está investindo para aprimorar cada vez mais a produtividade e a eficiência da operação dele.”
Futurecom: Quais tendências você, Juliana Chini, aposta falando de Agro é Tudo e Agro é Tech?
Juliana Chini: “Eu aposto no Agro é Inteligência Artificial. Eu já apostava antes da gente ter todo esse novo hype, todo esse novo momento do Chat GPT e tudo que está acontecendo.
Apostava já há uns 3 anos, porque de fato, o agro está gerando muitos dados, muitos, muitos dados. Então, a gente tem lavouras gerando os dados, a gente tem maquinário gerando dados, a gente tem animais gerando dados.
E a grande dificuldade, inclusive para o produtor, e para quem trabalha nessa área de tecnologia de agricultura digital, é o que fazer com esses dados.
O produtor, ele precisa ter informação, mas são muitas informações. A gente precisa chegar naquele momento que a gente tem um consultor de inteligência artificial que mostra a decisão.
Não adianta falar vai chover, legal, vai chover, mas, agora é o momento ideal de aplicar ou não? Devo fazer um manejo, devo fazer uma atividade de plantio ou não?
Então, cada vez mais, o que vai ser a grande riqueza para a gente conseguir entregar pro setor como um todo, não só para o agricultor, mas pensando indústria, pensando logística, é a informação para tomada de decisão.
E de novo, fazendo um paralelo com.um aplicativo financeiro, você não quer ficar horas olhando qual é o melhor investimento, você quer alguma ferramenta te diga qual é o melhor investimento, de acordo com o seu perfil, de acordo com o seu todo o seu histórico, para o produtor é a mesma coisa.
E a gente tem uma grande dificuldade que é a integração das soluções, porque hoje a gente tem uma solução para x, uma solução para y, uma solução z, e essas soluções não conversam.
E se a gente quer ter uma inteligência que se alimenta de dados e fique cada vez mais rica, essas soluções, em algum momento, vão precisar conversar.
E aí entram outros desafios, como LGPD, que daria uma conversa só sobre esse tema, mas que de fato, todos esses dados estão criando um histórico incrível para o setor, que em algum momento, algumas soluções já estão trabalhando nisso, diversos tipos de inteligência artificial vão conseguir trazer a tomada de decisão, e não exatamente o dado em si.
Fora isso, acho que todas as tecnologias emergentes que a gente fala já estão sendo aplicadas. A gente tem a questão da automação cada vez mais forte, quando a gente pensa na robótica também, robôs fazendo atividades de manejo agora de noite também, quando o produtor vai dormir, já tenho um robô lá fazendo aplicação.
São notícias muito boas, porque no caso do agro, não acredito que isso venha a substituir a mão de obra, mas que vem a ajudar o produtor, porque de fato é uma atividade muito braçal, é uma atividade que exige muito do físico em dias que está 35º-40°.
Então, cada vez mais você ter um trabalho mais de inteligência e menos manual e, claro, com informação, dados precisos que ajudam cada vez mais a otimizar a produtividade.”
Futurecom: Nos dois setores majoritariamente masculinos, o agronegócio e a tecnologia, o que você deseja é para as mulheres que estão ou estão adentrando essas áreas?
Juliana Chini: “Por mais que seja um tema, de certa forma, às vezes polêmico, inclusive para as próprias mulheres, eu gosto de ser bastante sincera e dizer que a gente ainda não está ainda no mundo ideal.
Melhoramos muito, o que me deixa bastante otimista em relação ao tema de gênero, seja no agro, seja no agro e tecnologia.
O segundo censo de Agtechs, que foi realizado pelo EdTech garage em 2018, eu já estava trabalhando com Agtechs nesse nesse ano, e esse censo foi realizado com 184 Agtechs brasileiras, 38% não tinham nenhuma mulher no time e 26% tinham uma. Ou seja, 60% das Agtechs, ou não tinha nenhuma mulher, ou só tinha uma.
A gente não tem um novo senso, então não dá para trazer um dado é confiável sobre esse tema, o que eu consigo dizer, percorrendo os ambientes de inovação, eu participo de vários hubs em todo o Brasil, é normal você ver cada vez mais mulheres, não só atuando nas Agtechs em cargos a menores, mas também nas lideranças, e até mulheres fundadoras representando o Brasil mundo afora inclusive.
Mas, a gente ainda tem muito que trabalhar em relação às questão de gênero como um todo, seja aumentar a participação feminina nesse universo de tecnologia e agro, seja aumentar a participação feminina nas lideranças dessas empresas, seja criar uma estrutura que traga também equidade em diversos temas, como a questão salarial, como benefícios.
Nas Startups, a gente está sempre trabalhando muito, como criar um ambiente que a mulher possa sim vir a ter um período de maternidade interessante, que tenha benefícios em relação a isso, que possa ter uma jornada mais flexível.
Então, todos esses temas eu considero que, de forma geral, ainda estão muito iniciais para as Agtechs em si, e até algumas empresas maiores do Agro que trabalham com tecnologia acabam estando um pouco mais avançadas, até por ter uma estrutura de governança mais robusta, mas de forma geral, a gente precisa amadurecer muito a discussão sobre esse tema.
E quando você pergunta qual é o recado que eu gostaria de deixar, é que elas continuem confiando, que elas continuem sonhando, que elas continuem acreditando, e vejam também com otimismo, que as coisas estão melhorando e oferecendo novas possibilidades.
Hoje você não precisa, é por ser mulher, trabalhar, entrar numa empresa de tecnologia no agro e para um RH, apenas. Você pode ser uma cientista de dados, você pode ser uma desenvolvedora, você pode ser o que você quiser, esse é o ponto.
Você pode ser uma liderança, pode ser uma CEO e, claro, com certeza, vai enfrentar desafios, mas as coisas estão melhorando.
E encontre sempre a rede de apoio, porque a gente tem grupos, a gente tem eventos, e estando até em empresas concorrentes, a gente está sempre ali, uma segurando a mão da outra e ajudando a puxar para que cada vez mais a gente é tenha lideranças femininas na área de tecnologia e do agro representando o Brasil aí para o mundo todo.”
Futurecom: Se você pudesse conversar com alguém, qualquer pessoa, com quem você conversaria e por que?
Juliana Chini: Olha, essa de fato foi a pergunta mais difícil, porque eu gostaria de conversar com muitas pessoas que já passaram por esse mundo e que também estão aqui.
Mas, eu acho que uma pessoa que certamente seria um sonho, renderia uma boa conversa seria a Oprah, por tudo o que ela representa, por ter sido pioneira, uma mulher negra que também enfrentou um mercado americano de talk show bem masculino e bem agressivo.
E ela liderou tudo, enfim, se destacou, se eu não me engano, é o talk show mais assistido no mundo. Então assim continua sendo uma mulher muito inspiradora, que apoia causas a causas importantes.
A Oprah seria uma pessoa que eu provavelmente ia congelar, ficar um tempo sem conseguir conversar com ela, mas gostaria até de alguns conselhos dela para aplicar também nesse cenário de agro e tecnologia.”
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